Liderança: saber manter laços de amizade com seus liderados é saudável, desde que haja clareza de divisão de papéis |
Editado por Mariana Desidério, de EXAME.com
É possível ser líder e manter laços
de amizade com os liderados?Escrito por Maria Cristina Ortiz de Camargo, especialista em
comportamento
Ao longo de décadas, a liderança foi sempre associada a figuras de
autoridade e respeito, transformando o poder hierárquico na sua melhor forma de
expressão. Esse conceito, oriundo da nossa própria cultura familiar, acreditava
que certo distanciamento entre pais e filhos, supostamente, garantiria uma
obediência sem muitos questionamentos. Esse modelo de comunicação, baseado em
respeito à autoridade das hierarquias, encontrou nas organizações um ambiente
fértil para prosperar e se solidificar.
Mesmo na atualidade, após uma evolução expressiva no
conceito de liderança, muitos líderes ainda questionam se um relacionamento de
amizade com seus colaboradores ajuda ou prejudica as demandas do contexto
profissional. Se considerarmos a analogia familiar seria o mesmo que perguntar
se ser amigo de seu filho interfere no seu papel de pai e na responsabilidade
que essa função acarreta.
A questão, porém, parece estar centrada na dificuldade
que as pessoas têm em discernir as responsabilidades inerentes ao seu papel
social e profissional e no estabelecimento dos limites apropriados para que
esses não entrem em conflito.
A existência de amizade entre pessoas que convivem
mais tempo no trabalho do que em suas próprias casas é uma característica mais
do que normal, ela é natural. Evitá-la, portanto, parece ir de encontro aos
sentimentos mais nobres e importantes presentes entre as pessoas,
independentemente de suas funções.
Líderes maduros e seguros de sua posição e
responsabilidade conseguem desenvolver relacionamentos de amizade com sua equipe,
sem com isso prejudicar o seu papel na gestão dos resultados. Isso exige
transparência e integridade nas relações, para que as pessoas entendam que
podem contar com sua compreensão e empatia, mas também com a firmeza e valores
diante de atitudes não condizentes com as expectativas da organização e do
negócio.
Somos seres humanos, antes de tudo, e gostamos de ser
tratados com atenção e consideração. Líderes que aprendem a lidar com o medo e
a insegurança de estabelecer relacionamentos amigáveis com seus liderados,
propiciam a criação de ambientes extremamente saudáveis no trabalho. O
desenvolvimento dessa habilidade costuma trazer um retorno gratificante para
todos.
Bons pais são amigos de seus filhos, sem com isso
deixar de ter a responsabilidade de orientá-los com rigor, quando necessário.
Por que nossos líderes não podem fazer o mesmo?
Maria Cristina Ortiz de Camargo é
especialista na área comportamental e docente da BSP – Business School São
Paulo.
Fonte: exame.abril.com.br